ANDRÉ VALPASSOS PACIFICI GUIMARÃES
Coordenador do Sistema Nacional de Acreditação – DICQ
Diretor de Qualidade do Programa Nacional de Controle de Qualidade – PNCQ
Não é de hoje que os laboratórios clínicos devem demonstrar qualidade nos exames realizados. A sociedade, cada vez mais, necessita de exames com qualidade e segurança para um diagnóstico seguro e preciso. O Laboratório clínico deve representar esse ambiente e passar a imagem de um local em que seus usuários possam confiar nos serviços prestados.
Após a divulgação da RDC 302 em 2005, os laboratórios clínicos obtiveram um ganho enorme de qualidade em seus processos, o que levou a seguinte etapa, a Acreditação.
A Acreditação laboratorial, hoje oferecida pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, através do Sistema Nacional de Acreditação – DICQ, possui um Programa de Acreditação do Sistema de Gestão da Qualidade dos Laboratórios Clínicos empregando como referência a Norma ISO 15.189. Esse programa permite que o laboratório utilize ferramentas que favoreçam o monitoramento de todos os seus processos, passando por todas as etapas analíticas (pré-analítica, analítica e pós analítica). O objetivo, nesse caso, é permitir que o laboratório clínico procure sempre a melhoria contínua, tendo como foco principal o atendimento às necessidades do usuário e, claro, entregando exames com qualidade.
Neste artigo, abordarei uma etapa muito importante na qualidade laboratorial. O Controle interno da Qualidade.
Na rotina laboratorial, é necessário possuir mecanismos de monitoramento contínuo de nossos sistemas analíticos. O controle interno da qualidade nos oferece essa possibilidade. Conceitualmente, o controle interno ocorre pela análise de amostras com valores conhecidos ou de referência, sejam quantitativos ou qualitativos, devendo esses abranger os níveis de concentração ou reatividade dos exames avaliados.
No mercado existem diversas marcas e produtores, o importante, nesse caso, é o laboratório se programar e procurar utilizar materiais com características mais próximas às amostras biológicas. Um outro ponto importante a ser considerado é planejamento do uso de controles com o mesmo lote por pelo menos 6 meses. Ao se utilizar o mesmo controle por um longo período, é possível eliminar essa variável, o que auxilia na identificação de forma mais rápida, quando os resultados de controle interno se encontrem fora das especificações aplicadas.
Uma vez definido quais os controles que devem ser utilizados, o laboratório precisa definir seus valores de controle interno. Recomenda-se que antes de finalizar o lote em uso, o laboratório comece a determinar seus próprios, utilizando aqueles de bula somente como referência, pois os valores obtidos devem estar dentro da faixa estabelecida pelo fabricante do controle. Mas por que adotar essa prática? Por uma razão muito simples, os valores estipulados pelos fabricantes são compostos por diversos resultados oriundos de rotinas diferentes, equipamentos diferentes, profissionais diferentes, mas que possuem equivalência na metodologia empregada. Dessa forma, espera-se que a amostra de referência ou controle interno possua um desvio padrão (DP) maior, levando a uma faixa de aceitabilidade maior.
Quando se emprega valores próprios, se está avaliando um único sistema analítico, ou seja, o próprio processo de execução do exame, profissionais envolvidos na atividade, pipetas calibradas, reativos utilizados e tudo mais que que contribua para as incertezas dos resultados produzido pelo laboratório. Ao se utilizar seus próprios resultados, o desvio padrão obtido e o coeficiente de variação serão reduzidos. Assim, qualquer mudança da rotina será facilmente, identificada através dos resultados obtidos no controle interno, levando a uma ação mais rápida e assertiva, antes que se torne um problema maior e alcance até ao usuário final.
Um outro ponto muito controverso entre os laboratórios é a quantidade de níveis de controles utilizados. Quando se utilizam de 2 a 4 controles por corrida e se aplicam as Regras Múltiplas de Westgard, se mantém um número baixo de falsas rejeições, enquanto que, ao mesmo tempo, é mantido uma alta taxa de identificação de erros.
Para a aplicação correta do CQI, é muito importante a qualificação constante da equipe técnica e de colaboradores do Laboratório clinico. Esse é um tema frágil e pouco abordado nas graduações, que requer a busca por treinamentos mais específicos disponível no mercado. O laboratório precisa buscar por empresas qualificadas, instrutores experientes para que todo o conhecimento possa ser difundido e tenhamos cada vez mais exames com qualidade e segurança do paciente.
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
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